A Trilha do Ouro é assim chamada porque na época da colonização por Portugal e da exploração das nossas pedras preciosas, escoava-se o ouro ilegalmente por esse caminho construído pelos índios Guaianás, tendo o calçamento pé-de-moleque construído pelo suor dos escravos, para somente fugir dos impostos estabelecidos pela Coroa portuguesa. Ela começa em São José do Barreiro - SP e termina em Mambucaba -RJ ou em Paraty.
1º dia – 25 de março de 2016
1º dia – 25 de março de 2016
Eu, Denise Constantino, Carmen Amazonas,
Rafaela Maia, os casais André Pimenta e Karina Baptista, e David Pedrosa e
Tuane Rodrigues saímos de Angra dos Reis às 6 horas, de Kombi, rumo a São José
do Barreiro, passando por Lídice, Rio Claro, Bananal, Arapeí e Formoso. Levamos
cerca de 4h. Nosso grupo era formado por 3 trilheiros (eu, André e Karina), 1
que fez a última trilha ano passado (Carmen) e 3 iniciantes (Rafaela, David e
Tuane). Paramos na cidade de São José do Barreiro, colonial, parada no tempo
com seus casarios antigos, para tomar café e comprar pão. Depois subimos por
uma estrada de terra e cascalho até a entrada do Parque Nacional Serra da
Bocaina. Levamos cerca de 1 hora subindo. Na portaria, fomos surpreendidos,
porque não havia nosso registro, feito antecipadamente por e-mail. Parece que a
pessoa que recebeu o e-mail foi transferida e não repassou as informações.
Porém, não criaram empecilho. Anotamos nosso nome e documentos, colocamos as mochilas
nas costas e iniciamos a maior aventura de nossas vidas.
Caminhamos cerca de 1 km e meio até a
descida para a Cachoeira de Santo Isidro, exatamente às 11h e 50min. A
cachoeira é belíssima e estava com a água abundante devido às chuvas
anteriores. O tempo estava favorável, quente, com sol, céu limpo, com poucas
nuvens. Tivemos nosso almoço e depois, com coragem, entramos na água. A água
gélida, mas convidativa. Tem pouca profundidade e parece uma praia, com um
grande banco de areia em águas rasas, bem próximo da grande queda. Brincamos,
fotografamos, nos banhamos, trememos de frio e de alegria e agradecimento por
estarmos ali em tão belo e divino lugar. Esquecemos a hora. Quando chegamos à
trilha novamente, já eram 13h e 45min. Ainda tínhamos 21,5km pela frente e não
queríamos chegar no escuro. Missão quase impossível. Nosso ritmo foi bom. A
trilha é bem aberta, limpa e sem muitas ladeiras. Não muito longe, tivemos que
atravessar um rio não muito largo e com águas rasas. Fizemos outra parada na
Cachoeira das Posses, na metade do caminho, onde ficamos apenas 20 minutos e
onde fizemos outro lanche. Ninguém se molhou além de Carmen. Nossas costas já
estavam doendo devido ao peso da mochila, mas prosseguimos animados. A paisagem
é belíssima e encantadora, de onde fizemos muitas fotos. Depois de muito tempo,
encontramos uma placa dizendo que faltavam 2km para a Pousada de Barreirinhas e
já começava a escurecer. Os 2km pareceram 6 e caminhamos uns 25 min no escuro,
com lanternas, até finalmente avistarmos a porteira da pousada. Eram 19 horas,
ou seja, fizemos 21,5km em 5 horas. Assim que chegamos, a chuva caiu com
vontade. Agradecemos aos céus por já estarmos em segurança dentro da casa do
simpático Tião. Tomamos banho e aguardamos o grupo que chegou antes jantar. Jantamos
arroz, feijão, salada, aipim, batatinhas cozidas e frango. A sobremesa foi doce
de abóbora e goiabada com queijo minas. Tudo muito delicioso. Depois, um bate
papo com o pessoal que estava acampado e cama. Todos estavam doloridos,
cansados, doidos para dormir. Marcamos para acordar às 8 horas.
2º
dia – 26 de março de 2016
Acordamos às 8h e tomamos o
desjejum: café, leite, suco industrializado, pão, queijo, manteiga e bolo.
Ótimo para começar o dia, que estava lindo e ensolarado. Não tivemos pressa.
Arrumamos a mochila, passeamos pelo quintal, fizemos fotos, apreciamos as
paisagens, conversamos com nossos simpáticos e simples anfitriões e partimos
quando já eram 10h e 30min para percorrer os 10 km do segundo dia da Trilha do
Ouro. Esse caminho tem uma parte aberta e outra com mata mais fechada e apenas
um caminho estreito para percorrer. Também não há muitos aclives. E nem há
cachoeiras, apenas córregos e rios que temos de transpor. Nosso ritmo estava
mais lento, porém conseguimos chegar, parando apenas 2 vezes para lanchar, às
14h e 30min. Para chegarmos à casa do outro senhor Tião, temos de atravessar o
Rio Mambucaba por uma espécie de “teleférico”, que parece uma gaiola, puxada
por nós mesmos. Cuidado com os cabos, cortam os dedos. A casa do segundo Tião é
bem mais simples, apenas um banheiro para todos tomarem banho. Houve uma
confusão em relação ao valor da diária. Foi-nos informado que custava 100,00
por pessoa, mas o Tião disse que em feriado custa 150,00. Recolhemos o que
faltava e pagamos. Ele alegou que ali era muito distante, de difícil acesso
para chegar mercadorias. Ficamos em 2 quartos, os casais em um, que não tinha
luz e eu, Carmen e Rafaela em outro, que havia lâmpada. Lanchamos, deixamos as
mochilas nos quartos, atravessamos novamente o rio na “gaiola” e fomos à
Cachoeira dos Veados. O percurso é curto e fácil, em apenas 15 minutos, já
estávamos lá para apreciar aquela maravilha da natureza. Ficamos extasiados com
tamanha beleza. Entramos na água, fizemos fotos e retornamos. Na casa,
enfrentamos a fila de espera para banho. Após o banho, jantamos: arroz, feijão,
macarrão, legumes cozidos, frango e batatas coradas. Tudo delicioso. Após a
janta, acenderam uma fogueira no quintal e todos (o mesmo grupo que acampava em
Barreirinhas estava lá) se sentaram ao redor para contar piadas e causos.
Quando o cansaço bateu, um a um foi se recolhendo. Dormir nessa noite não foi
tão fácil. Havia muitos mosquitos e o frio entrava pela abertura que havia
entre o teto e a parede do quarto. De qualquer forma, acordamos às 6 horas para
o caminho do último dia. Tomamos café: bolo de chocolate, café, leite,
manteiga, queijo e pão caseiro e saímos às 7h e 30min.
3º
dia – 27 de março de 2016
Todos nos avisaram que a última
parte da trilha seria a mais difícil. E estavam corretíssimos. Caminho fechado
e feito de pedras escorregadias. Embora estivesse sol, o solo estava bem
encharcado, com muita lama, onde atolamos várias vezes. Os tênis ficaram
marrons. As mochilas estavam mais vazias, mas o peso ainda incomodava. Fomos
devagar devido à dificuldade, mas com a meta de chegarmos à ponte aramada, em
Mambucaba, às 14h, horário que marcamos com o motorista para nos buscar. Levei
2 tombos, escorregando nas pedras Pé-de-Moleque. Paramos 2 vezes para descanso
e lanche. Faltando vinte minutos para o final, encontramos uma cachoeira
maravilhosa e não resistimos ao banho refrescante. Atravessamos mais uma ponte feita
de troncos e caminhamos mais uns vinte minutos até chegarmos ao destino final,
exatamente às 14h. Registramos o feito, os tênis sujos de lama e comemoramos
nos banhando no Rio Mambucaba. Caminhamos ainda 2km até a Kombi, que nos
esperava em um trecho, de onde não conseguiu prosseguir para nos buscar na
ponte aramada. Cansados, doloridos, mas sãos e salvos, com a sensação de dever
cumprido, desafio vencido e superação, principalmente para quem fez trilha pela
primeira vez. Parabéns a estes.
SALDO
FINAL:
AS
ETAPAS: os 23 km não foram assustadores. A trilha é bem fácil, sem muitos aclives
(tem uns próximos à pousada) e é bem aberta. Muitas flores pelo caminho, cavalos,
bois e vacas. Araucárias também são constantes. O que dificultou foi a mochila
pesada, que fez com que os ombros ficassem doloridos, o que uma massagem com
cataflam e um relaxante muscular resolvem. Sugestão: dorflex ou advil. Vale a
pena parar nas 2 cachoeiras: Santo Isidro e das Posses, bem distantes uma da
outra. O segundo dia é uma mistura de trilha aberta e trilha de mato mais
fechado. Mas são apenas 10km, com poucos aclives, bem tranquilo. Mas não corra.
Bom é apreciar a natureza, parar, respirar ar puro, fazer muitas fotos. O
último dia é o mais pesado. São 18km em caminho de pedras escorregadias e muita
lama (se chover). Por isso, tem de ser feita com atenção, cuidado e bem
devagar. Tombos são inevitáveis, por isso ter cuidado para não se machucar é
fundamental. No mais, quase chegando à ponte aramada em Mambucaba somos
brindados com uma cachoeira refrescante e convidativa.
Pelo
caminho há pontes rústicas de troncos de árvores e riachos a transpor e aí
vocês escolhem entre pular pedras, tirar os tênis e colocar os pés na água ou
entrar com tudo. Há vários pontos para abastecer o cantil.
ROUPAS
E OUTRAS COISAS: A mesma calça que fui serviu para 2 dias de caminhada, sendo
que no primeiro dia dá para fazer de bermuda, se tiver calor. Calça-bermuda é
ótima para isso, de tecido leve e que seca rápido, não muito justa para
facilitar os movimentos. Levei uma calça dry-fit, legging para noite e que usei
no último dia. Uma blusa para cada dia de caminhada, que pode ser sem manga ou
com manga e uma para noite, sendo que a que usei nas 2 noites vesti na trilha
para o último dia. Tanto na primeira quanto na segunda noite, dormi com a roupa
que vesti após o banho; assim, não precisei levar roupa para dormir. As noites
estavam bem fresquinhas e não teve como transpirar. Roupa íntima: uma para cada
dia. Na verdade só usei calcinha de biquíni e top. Um no corpo para o primeiro
dia, e mais dois conjuntos para os outros dias. Os mesmos para vestir após o banho
e dormir. Quando acordamos, não há banhos. É tomar café, arrumar a mochila e
partir. Levar um casaco para noite e três pares de meia. Levar chinelo para
descansar os pés à noite. Levei capa de chuva e capa para a mochila porque a
previsão era de chuva, mas não precisei usar. Levar uma lanterna, que pode ser
de cabeça ou de mão. Se as pilhas forem novas, nem precisa levar extras. Levei,
não usei e pesou, a não ser que fique passeando do lado de fora à noite. Só
usei a lanterna no primeiro dia quando chegamos já no escuro. Levei um pequeno
lampião à pilha que ajudou na iluminação do quarto em Barreirinhas. Mas não é
imprescindível. Eles disponibilizam velas. Imprescindível levar bastão de
caminhada, ajudou muito. Levei itens de primeiros socorros e só usei band-aid,
graças a Deus. Mas é recomendável levar um esparadrapo, gaze e antisséptico. Levar
também um canivete, mas escolham bem. Eu e mais dois colegas compramos um
daqueles multifuncionais no Naim e não serviu para nada. Sugiro que combinem
quem pode levar um ou dois bons. Para purificar a água que pegar nos rios, leve
Clor-in. Comprei no Naim. O pacote com 10 pastilhas custou 12,00 e dá para
purificar 10 litros de água. Uma pastilha para cada 1 litro. Mas tem de esperar
meia hora para fazer efeito. Quanto à água, iniciei com um cantil de 900ml e
não precisei abastecer na primeira etapa. Na verdade, só abasteci nas
hospedagens. Quem não vive sem shampoo, condicionador e creme corporal, sugiro
que levem em frascos pequenos. Levar sabonete, desodorante e muito importante:
repelente. Há muitos mosquitos tanto nas casas quanto no mato. Além de
relaxante muscular, levar remédios para dores de cabeça e é bom também levar
uma vitamina C efervescente para dar um UP. Tomei todos os dias após o café. Para
se proteger do sol, boné ou viseira e protetor solar. Mas, confesso que foi
difícil conciliar repelente com protetor solar. Preferi o repelente e fiquei
moreninha. Sinal de celular não existe. Não há telefone. A luz das casas é por
gerador.
COMIDA:
Levei em um pote para o primeiro almoço, batatas doces cozidas com ovo de
codorna (um luxo). Fiz as contas e acabou que foram erradas, não comemos tudo e
sobrou, o que pesou na mochila. Levamos apenas um pacote de pão de forma para
dividir para 3 e até que deu. Fiz kits com mix de passas, castanhas, amendoim e
amêndoas, com bananada, ou com laranja, ou com goiaba, ou com banana ou com
barra de cereais ou ainda com barra de arroz doce (tipo aquela pipoca doce de
saquinho). Sobraram muitos mixes de cereais. Levei também suco de caixinha, mas
não é necessário. Pode-se comer o sanduíche puro. Frutas são ótimas, mas pesam,
então, têm de ser bem dosadas. Banana-passa é ótima e melhor do que bananada.
Para sanduíche, levei queijo curado e salaminho, que tem maior resistência. Levamos
também atum em lata. Pesa, mas foi bem útil. O pacote de pão ficou bem amassado
durante o trajeto, talvez seja melhor já levar os sanduiches montados, mas não
tenho certeza quanto a sua durabilidade. Creio que o pãp sírio seja melhor para os solavancos, mas deixamos pra comprar na véspera e não achamos em nenhum supermercado. Levamos também 4 pacotes de biscoitos
para 3 e sobrou 1 e levamos também 1 caixa de polenguinho e sobraram alguns. O
maior luxo foi levar azeitonas, mas ficam ótimas no sanduíche e tem sal e o
melhor, é leve.
A
CASA EM BARREIRINHAS: É uma casa simples de moradores de roça, mas bem
arrumada, limpa, agradável. Tem uma sala com sofás, uma varanda onde o pessoal
joga conversa fora e bebe um vinho. Há uma grande área gramada onde o pessoal
acampa. O pessoal que acampa tem um banheiro do lado de fora e não usa as
dependências da casa. Quem acha que conforto é fundamental, não vá. Cada casal
ficou com um quarto e eu e as 2 colegas ficamos em outro com 4 beliches. Há uma
vela em cada quarto, que não pode sair dali e tem de ser apagada antes de
dormimos. Há um banheiro feminino e outro masculino; então, é natural que haja
fila de espera. O chuveiro não é muito bom, cai pouca água, mas pelo menos é
água morna. Eles disponibilizam roupa de cama com edredom ou cobertor. Só não
tem toalha de banho. Dicas de toalhas: toalha mágica, que seca rápido ou toalha
fralda que os bebês usam, para não pesar na mochila. A luz é por gerador e não
há lâmpada em todos os cômodos, mas durante à noite, a luz da sala fica acesa. Eles
vendem refrigerante por 5,00. E o valor é depositado antecipadamente.
A
OUTRA CASA: A segunda hospedagem, que também é de um senhor chamado Tião, é bem
mais simples e modesta. E quem é muito ligado a conforto, não vai gostar nem um
pouco. Mas, estamos em uma trilha para nos divertir, para curtir a natureza,
para “des-estressar”, para se desvencilhar dos velhos hábitos, para viver um
caos que sempre evitamos através do conforto de nossas casas e de nossos
aparatos tecnológicos. Também a luz é por gerador e tive sorte porque em meu
quarto havia uma lâmpada, já no quarto de meus amigos, não havia, somente luz
de velas. Há uma área de refeitório com mesas e bancos onde todos jantam e tomam
o café da manhã. Também há uma grande área gramada à beira do rio Mambucaba
para quem quiser acampar. Só há um banheiro para banho, então, é preciso ter
paciência para esperar. Os quartos ficam mais a mercê do tempo frio, pois não é
fechado até o teto. O refrigerante não é gelado e custa também 5,00. Como a
reserva foi feita pelo Tião de Barreirinhas, pagamos todo o valor ao chegarmos.
Bem,
é isso. Tudo que podia relatar, toda a experiência maravilhosa que tive com
essa trilha de 3 dias está descrita aqui. No mais, bom proveito e não deixem de
ir, porque vale muito a pena, é ímpar, é uma aventura deliciosa, que faria de
novo.
Por:
Denise Constantino
Cachoeira de Santo Isidro
Cachoeira das Posses
Despedindo-se da casa do Sr. Tião em Barreirinhas
2º dia de trilha
2º dia de trilha - pedras já no caminho
O colorido na mata
Atravessando o Rio Mambucaba para casa do Sr. Tião
Indo para Cachoeira dos Veados
Cachoeira dos Veados
Último dia de trilha
Chegada em Mambucaba - Vencedores