Férias de maio. Depois do Bourbon – Festival de jazz em
Paraty, parti para Urubici, dia 15, numa quarta-feira quente, mas com o sol
escondido entre as nuvens. O primeiro dia foi dedicado plenamente ao
deslocamento. Às 7h, parti de Angra dos Reis para o Rio de Janeiro, uma viagem
morrinhenta que durou mais de 3 horas. Fui direto para o aeroporto Santos
Dumont, de táxi: 40 reais. Confesso que ainda tenho receio de usar Uber. Às
14h10m, em ponto, o voo da Gol decolou para Florianópolis, com conexão em São
Paulo. Às 17h30m, pontualmente, pousamos no Aeroporto Hercílio Luz. Débora, da
agência de Turismo Serra Sul, já estava me aguardando. Seu esposo, Zé Marcos,
aguardava no carro. Seguimos para mais 3 horas de estrada. Paramos numa
lanchonete no meio do caminho para jantarmos, já que corria o risco de chegar
em Urubici e não ter onde comer. Chegamos à pousada Flor de Tuna, do simpático
casal Cristiane e Maurício, no coração da cidade, por volta das 9h30m. A cidade
parecia dormir. O jeito foi fazer o mesmo, após um banho quente e revigorante.
A pousada é simples, porém aconchegante. Os apartamentos são amplos com todas
as amenidades necessárias, inclusive aquecedor e lençol térmico. O café da
manhã é maravilhoso, tudo feito pela Cristiane: bolos, pães, mel, geleias,
suco, queijo, frutas. A chave da cozinha fica junto à chave do quarto, para
entrarmos a qualquer hora. Tudo isso regado a uma boa conversa que os proprietários
adoram ter com os hóspedes.
No primeiro dia de aventura, dia 16/05, saímos da
pousada às 9h30m. A temperatura era de
10 graus. Antes, passei na padaria ao lado da pousada para comprar o lanche de
trilha. O atrativo do dia foi a Serra dos Altos do Corvo Branco, há 30 km da
cidade, percorrendo uma linda área verde com fazendas, sítios e montanhas. A
Serra do Corvo Branco tem esse nome em homenagem ao urubu-rei, que habitava os
paredões da encosta rochosa. A estrada é de terra com curvas em formato de S,
ligando Urubici a Grão Pará. Após as fotos, ainda no meio de um pouco de
neblina, subimos para os Altos do Corvo Branco. A taxa para entrar é 20 reais,
paga diretamente ao guia. A trilha, ladeira acima, tem 4,5 km, somando ida e
volta, a 1250 metros de altitude. Lá em cima, a sensação térmica era de 9
graus. E mesmo com sol e céu azul, a neblina escondeu boa parte das paisagens
das montanhas e dos vales. Lanchamos lá no topo da montanha, aguardando as
nuvens se movimentarem. Os passeios em Urubici possuem essa particularidade,
ficamos à mercê dos ventos e das neblinas que escondem as imponentes paisagens.
Logo após lancharmos, descemos a trilha. No caminho, paramos na fábrica de
chocolate Avencal, onde apreciei um delicioso e cremoso chocolate quente. Os
chocolates Avencal são saborosos e me arrependi por não comprado mais. À tarde
foi livre e aproveitei para explorar a pequena cidade de 11 mil habitantes,
onde a concentração de lojas, restaurantes, lanchonetes, cafeterias e
supermercados estão na Avenida Adolfo Konder, uma reta de 6 km, ida e volta.
Urubici possui ruas impecáveis, não há desabrigados, não há violência, a
polícia pouco é chamada, não há vida noturna; os restaurantes atendem até as
22h. Jantei no restaurante Sêmola, de restaurante italiano, inclusive comandado
por um chef italiano legítimo. Nota 10 para a massa que escolhi.
2º dia de aventura – 17/05 - o tempo amanheceu nebuloso e frio. Destino: Serra do Rio do Rastro, a 86 km de Urubici, passando por Bom Jardim da Serra e da entrada para São Joaquim. A Serra do Rio do Rastro liga o litoral sul de Florianópolis à serra. São curvas sinuosas entre encostas de rocha na montanha, similares a do Corvo Branco. Tem esse nome devido a ter sido rota de tropeiros, que deixavam que seus cavalos escolhessem o melhor caminho para chegar ao seu destino. Do caminho escolhido pelos animais surgiu a estrada de hoje. Estava muito frio, e não me vesti adequadamente. Após apreciar a serra e sentir o gostinho de passear pelas curvas, subimos para o mirante, de onde havia outra visão da serra. Logo, a neblina tomou conta de tudo, o frio apertou e a chuva fina chegou. O plano era visitar o Cânion Laranjeira, mas o tempo não ajudou. Almocei no restaurante do Mirante e o guia ofereceu um passeio paliativo. Passamos pelas ruas de Bom Jardim da Serra e depois fizemos parada em São Joaquim, conhecida pelas temperaturas negativas durante o inverno. O sol resolveu surgir na parte da tarde e estava reconfortante diante da brisa fria. São Joaquim está a 60 km de Urubici. É maior que sua vizinha, mas tão bem estruturada e limpa quanto. Na praça, há um monumento que conta toda a história da cidade, ao lado da prefeitura. Há também a Igreja da Matriz, de 1924, feita em pedra vulcânica da região, o basalto. Em seguida, fomos à vinícola Francioni. Trata-se da vinícola mais linda que já visitei. A Sede é uma obra de arte, inclusive possui uma galeria onde artistas renomadas já tiveram suas obras expostas. Para minha sorte, havia um funcionário em experiência e fui contemplada com um tour gratuito. Exponho aqui meus parabéns ao jovem estudante de Direito, que só com 10 dias de trabalho já mostrou grande conhecimento sobre vinhos. No final do tour, como de praxe, seguiu-se a degustação de 6 rótulos: espumante, rosé (Vila Francioni – que Madonna adorou, quando esteve no Brasil), 1 Chardonnay, o carro chefe da vinícola – o tinto Francesco, e mais 2 tintos - um em homenagem a Juarez Machado e um mais encorpado. Confesso que nunca havia provado vinhos tão finos e elegantes, nem mesmo no famoso reduto de vinhos, Chile. Ainda paramos na Cachoeira Barrinhas, no meio do caminho de volta, antes de retornar à pousada. Nessa segunda noite, jantei um caldo no Bodegão, na mesma rua da pousada e bem próximo. A porção é frugal e o preço não foi proporcional.
Serra do Rio do Rastro
Cachoeira de Barrinhas
Vinícola Francioni
Igreja da Matriz em São Joquim
3º dia – 18/05: dia do tour Eco serra. O tempo
ainda estava nublado e com chuvisco. Primeira atração foi a Cachoeira Avencal,
a 8 km do centro. Uma belíssima queda de 100 metros em local agradável, onde a
pessoa paga uma quantia e pode passar o dia no parque, participando de várias
atividades ao ar livre. Não foi meu caso. Paguei 7 reais apenas para ter uma
visão privilegiada da cachoeira. Pena que a luz do sol não ajudou. A segunda
atração foram as inscrições rupestres, que também ficam em propriedade
particular. Paguei 6 reais para entrar. Trata-se de alguns rochedos onde há
inscrições feitas pelos índios, antigos moradores da região, aproximadamente
1000 anos atrás. A seguir, no coração de Urubici, visitei a Igreja Nossa
Senhora Mãe dos Homens, em homenagem a uma santa portuguesa. Todos chamam de
Igreja da Matriz. Seu estilo é gótico moderno, construída em concreto armado,
graças aos donativos da população, sensibilizada após o desmoronamento da
primeira Igreja da Matriz. A arquitetura da igreja é muito bonita e vale a pena
fazer muitas fotos. Em seguida, fomos ao Morro do Campestre, a 1280 metros de
altitude, em propriedade particular, após pagar 5 reais. Resolvemos subir a
ladeira a pé e no meio do caminho me arrependi, mas cheguei inteira. Lá em cima
há uma formação rochosa, em arenito, parecida com a famosa Pedra Furada. A
vista panorâmica é para o vale do Rio Canoas, fazendas e montanhas. É um lindo
passeio. Para finalizar o dia, fui à Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, a 10 km
do centro. É um santuário, onde há uma queda no meio de um lago e imagens de
santos nas rochas. É um lugar de fé, de silêncio e tranquilidade. Fim do dia.
Jantei novamente no Restaurante Sêmola, uma lasanha. Como era sábado, estava
lotado e o atendimento estava lento e enrolado.
4º e último dia de passeio: 19/05 – Amanheceu um lindo dia de sol.
Plano: trilha para a Pedra Furada. Levaríamos 5 horas somando ida e volta.
Porém, Zé Marcos me deu uma notícia nada agradável e fiquei decepcionada: seria
muito arriscado fazer a trilha devido às chuvas dos últimos dias na serra. O
solo deveria estar muito encharcado, com charcos onde afundaríamos até os
joelhos e há descidas íngremes em pedras, que deveriam estar escorregadias e
que exigem mais técnica. Não me restou escolha e por não querer correr riscos,
concordei em fazer outra atividade em substituição. Subimos até o Morro da
Igreja, distante 30 km do centro, localizado no Parque Nacional de São Joaquim,
a 1822 metros de altitude, onde existe um radar meteorológico e onde foi
registrada a temperatura de -17º. É uma área militar, não cobra para acesso,
mas necessita de autorização antecipada. Geralmente há uma fila na entrada,
pois só podem subir 30 carros por vez até o mirante. Aguardamos nossa vez por
aproximadamente 20 minutos. Do cume, avistamos a Pedra Furada de longe e a
Serra Geral circundando, majestosa. Como consolo e para não ficar de água na
boca por não ter feito a trilha, caminhamos 1 km aproximadamente pelas escarpas
e charcos até outro mirante para a grande serra. Em seguida, descemos o morro e
fomos até a cachoeira Véu de Noiva, que fica numa propriedade particular.
Paguei 5 reais para entrar. Após apreciar a cachoeira, subimos uma trilha de
500 metros até ao local onde fica o espaço da tirolesa. Depois, fizemos outra
trilha, descendo até a Cachoeira dos Namorados. O almoço foi no restaurante ali
mesmo, um self service muito delicioso.
Fim do tour em Urubici. Andei pela quase deserta Adolfo Konder
para me despedir da cidade, com a sensação de que poderia ficar mais dias e
conhecer outros pontos daquela paisagem bucólica, uma plena natureza selvagem.
Fui para Florianópolis de ônibus, às 7h45m, pela empresa Reunidas,
na segunda-feira. Levou 4 horas de viagem. Passei o resto do dia e a noite na
Ilha Magia. Terça-feira, voltei para casa.
Por: Denise Constantino