segunda-feira, 29 de agosto de 2016

CIDADES HISTÓRICAS DE MINAS

Gostaria de relatar minha viagem de mochileira, ônibus a ônibus, em que por 10 dias voltei no tempo e me senti dentro da história de nosso país, na época do Brasil colônia, dos desbravadores de terras, caçadores de ouro e exploradores de negros. Foi um verdadeiro “déjà vu”. O ponto de partida foi um banho de arte e natureza. Passamos por Belo Horizonte (centro sujo, cheio de mendigos) e fomos ao Instituto Inhotim, situado em um vilarejo chamado Brumadinho, a 1h e meia de BH. Inhotim nos expõe a integração da arte à natureza. As obras de arte, em estilo contemporâneo, são expostas ao ar livre e interagem com o público. Fazem-nos sentir pequenos diante de tanta beleza e ao mesmo tempo, grandes, por estarmos tendo a oportunidade de magnífica contemplação.

A viagem pela história começou por Ouro Preto. Fiquei na Pousada Casa dos Contos. Uma casa antiga, aconchegante, preço bom, os funcionários esbanjam simpatia e é próximo ao centro histórico. Na Praça Tiradentes, fui invadida pelo deslumbramento diante da beleza do local. Olhei para o alto e vi a estátua de Tiradentes. Ali sua cabeça foi exposta, depois de ter sido enforcado no Rio de Janeiro. O Museu da Inconfidência, onde antigamente funcionava a Câmara e cadeia da cidade Vila Rica, impressiona e merece que percamos horas lá dentro apreciando os objetos usados na época. Podia ouvir os clamores dos presos e as tramoias dos políticos entre aquelas paredes de pedra fria e ambiente escuro. Paga-se 7,00 para a visita. Visitamos várias igrejas e todas cobram a entrada, que geralmente custa 2,00. São igrejas riquíssimas, talhadas a ouro, em estilo barroco ou rococó, com obras de Aleijadinho e Mestre Athaíde. Visitei uma mina que já foi explorada e de onde se retirou muito ouro. O guia nos contou a história do sofrimento dos escravos naquele local e enquanto passava pelo beco escuro e estreito, podia ouvir a respiração ofegante deles, o som das picaretas cavando, o cansaço e a dor. A mina ainda é de ouro, literalmente, para o dono do terreno, que cobra 15,00 por pessoa para um curto trajeto. No observatório astronômico da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, vi saturno e passeei por seus anéis. A olho nu era apenas um ponto luminoso no céu negro, mas olhando pelo microscópio gigante, vi nitidamente o planeta envolto pelo anel. Passei por chafarizes, pontes e casarios que eram museus a céu aberto e casas de personalidades importantes na época. Pude visualizar Marília se encontrando com Dirceu na ponte que hoje leva o nome da musa de Tomás Antônio Gonzaga. Do alto da cidade vê-se uma casa na colina, abaixo do Pico do Itacolomi. É a casa onde se reuniam os inconfidentes. Podiam-se ouvir as conspirações para a liberdade. Ouro Preto é aconchegante, bela e merece uma boa exploração de sua história, mas é necessário ter disposição para subir e descer suas ruelas de pedras inclinadas e íngremes. Fui de trem para Mariana. Uma boa experiência diante de uma bela e exuberante paisagem. Em Mariana, cidade que nos remete à época dos pomposos portugueses que tomavam nosso ouro, ouvi o concerto do órgão de Arp Schnitger, na Catedral da Sé. Senti-me nos grandes salões de bailes da aristocracia, no século XVIII. Depois, fui à mina da passagem, onde desci por um carrinho 200 metros abaixo do solo. Lá, extraíam ouro em pó, já de forma mecânica, através das máquinas trazidas pelos ingleses. Há um lago de temperatura estável, onde mergulhadores praticam mergulho em cavernas. Foi uma viagem ao centro da terra que custou 24,00 por pessoa.



De Ouro Preto rumei para Congonhas. Fiquei no centro histórico, onde se concentram as atrações mais importantes da cidade, no Hotel Colonial, uma antiga construção. Dentre os pontos turísticos, destaca-se a Basílica do Senhor Jesus de Matosinhos com as estátuas em pedra sabão dos 12 profetas, feitas por Aleijadinho. Os profetas parecem clamar aos céus, nos advertirem e nos vigiarem. Próximo, há também as 6 capelas com os passos da crucificação de Cristo, que surpreendentemente me emocionaram, diante da perfeição das estátuas em tamanho natural, também feitas por Aleijadinho. Há também um local de eventos e festas religiosas, chamado Romaria, que antes abrigava romeiros que iam à Basílica. Eram pessoas pobres, aflitas, doentes, que iam em busca de milagres. Na própria Basílica, há a sala de ex-votos, com fotos e depoimentos de fé comoventes.

De Congonhas, fui para São João Del Rei. Cidade urbana com centro histórico belíssimo, com pontes de pedras com arcos que parecem medievais, sobre o rio Lenheiros. Fiquei no Hotel Colonial. Ótimo! Pertinho de tudo que é bonito no centro histórico, mas é preciso pechinchar para conseguir um preço bom. Visitei museus: de música, de Tancredo Neves, de artesanato; igrejas, as ruelas de pedra com casas coloniais, solares e ruínas. À noite, numa terça-feira, procurei um restaurante para jantar. Nada! Tudo fechado. Eram 21h e a rua estava quase deserta. Acabei comendo um sanduíche em um trailer, próximo à ponte sobre o rio Lenheiros e foi muito bom. Na noite seguinte, comi uma pizza na Pizzaria Raro, no Largo próximo ao hotel. Recomendo.

De São João, resolvi dar um pulo em Tiradentes de ônibus, pela Estrada Real. Apaixonei-me de cara pela bela Tiradentes e abreviei a estada em São João. Tiradentes é como Paraty, aconchegante, bela, com lojas de artesanato belíssimo, porém, caro; móveis rústicos com bons preços, restaurantes, bares com boa música e cafeterias chamativos. Fiquei hospedada na agradável Pousadium, que serve um café da manhã delicioso. Meu apartamento foi o Alvarenga Peixoto, poeta inconfidente, esposo de Bárbara Eliodora. Visitei um vilarejo chamado Vitoriano Veloso, cujo apelido é Bichinhos, porque assim os senhores de fazendas chamavam seus escravos. Vitoriano Veloso foi um inconfidente que foi castigado pelas ruas do Rio de Janeiro após a morte de Tiradentes e depois banido para a África, onde faleceu. Em Bichinhos há uma rua só com lojas de artesanato, fonte de renda da população local. Almocei no restaurante da Ângela, muito recomendado e descobri o porquê: boa comida, preço bom, onde podemos nos servir na própria cozinha, em um imenso fogão à lenha. Em Bichinhos, há a Oficina de Agosto, idealizada pelo artista plástico Toti para ajudar a comunidade a ter capacitação para obter sua própria fonte de renda. A caminho de Bichinhos, visitei também uma exposição de carros antigos. Maravilhosa!

No último dia em Tiradente, resolvi fazer um trekking à Serra São José, que é belíssima e emoldura toda a cidade. Foi uma caminhada de 5h e 30m, com um grupo de 13 pessoas mais 2 guias. A agência foi a Uai e cobrou 50,00 por pessoa. Quando olhei lá das ruas de pedra pensei que é quase impossível chegar lá em cima, porém, lá de cima, vemos quanto tudo é pequeno diante da imensidão de um paredão de pedra coberta pela vegetação de cerrado e em parte pela mata atlântica. Dá vontade de gritar: conseguimos! E não foi tão difícil. Pelo contrário, ao invés de ser cansativo, foi relaxante e enobrecedor. A tarde terminou com um delicioso almoço à La mineira. 


Por: Denise Constantino
Viagem realizada em maio de 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário